Revista Novo Perfil Curiosidades

sábado, 12 de outubro de 2013


Depois de 41 anos de confinamento, Herman Wallace foi libertado na semana passada. Três dias depois, ele morreu de complicações de câncer de fígado enquanto dormia.

Wallace, 71 anos, um dos “Três de Angola”, foi condenado em 1972 pelo assassinato de um guarda da Penitenciária do Estado de Louisiana, também conhecida como Angola. Até o fim, defendeu sua inocência. Em 1º de outubro, um juiz federal declarou que seu julgamento não foi justo e retirou a acusação do júri de instrução.

Prisioneiros que viveram em silêncio absoluto relatam ter tido alucinações e a sensação de que estavam loucos. Por quê?

DCI

Independentemente da política do caso, a morte de Wallace mostra que anos de isolamento têm um efeito profundo sobre o corpo e a mente.

“Entendo que ele tenha perdido mais de 18 quilos nos meses anteriores ao diagnóstico do câncer de fígado, quando se descobriu que seu caso era incurável. Mas com a assistência médica adequada, teria sido diagnosticado muito mais cedo, tratado intensamente e provavelmente a doença não o mataria tão rápido”, sugere o dr. Terry Kupers, psiquiatra do Instituto Wright, com formação em psicoterapia psicanalítica e forense e psiquiatria social e comunutária.

Os efeitos físicos mais comuns da doença incluem problemas cardiovasculares e gastrointestinais, enxaquecas e fadiga profunda. Enquanto estava no confinamento solitário, Wallace provavelmente se saiu melhor do que a maioria dos prisioneiros isolados, segundo especialistas, devido à sua consciência política.

“Sempre me impressiona o fato de que muitos desses detentos não guardam tanto rancor por sua situação”, diz Kupers. “Creio que isso é especialmente verdadeiro em relação aos presos muito inteligentes e politicamente sofisticados, como Herman Wallace”.

“Discuti essa questão com Robert King (um dos Três de Angola, hoje em liberdade), que concorda comigo nesse ponto. Quando os presos compreendem a dinâmica social e a injustiça de seu tratamento na prisão, eles não sentem tanta raiva como os que decidem sobreviver para mudar um sistema tão abusivo e discriminatório. Isso deve explicar por que alguém como Herman Wallace conseguiu sobreviver por quase 42 anos de tortura em confinamento solitário e continuar lúcido, politicamente consciente e comprometido com a justiça”.

Stuart Grassian, psiquiatra que estuda o confinamento solitário, visitou os Três de Angola no início de 2000, em Angola. ”As condições lá eram particularmente abomináveis”, relata. “Estive em muitas prisões e nunca senti medo, exceto lá. O Acampamento J (uma área de Angola reservada ao confinamento solitário) é uma masmorra miserável, com celas minúsculas e sujas, vazamento de água, mofo e absurdamente quentes no verão. Os mosquitos são insuportáveis. Mas esses homens possuíam uma enorme força e inteligência, e nunca sucumbiram aos sintomas mais drásticos do isolamento”.

Uma das condições associadas ao confinamento, raramente observado na população em geral, é o chamado delírio psicótico florido. Os sintomas incluem hiperreação a ruídos e outros estímulos, alucinações, ataques de pânico, dificuldade de concentração e de memória e paranoia.

Estudos que utilizam a eletroencefalografia (EEG) para medir as reações do cérebro a estímulos mostram que, após poucos dias de confinamento solitário, aumentam o estupor e os delírios. Um desses estudos comprovou que os sintomas podem se prolongar após a libertação do confinamento. Com o tempo, segundo Kuepers, ocorre um entorpecimento generalizado.

“Descobri que os prisioneiros que passaram décadas em confinamento solitário desistem de se comunicar. Eles não falam sequer com o guarda que entrega a bandeja de comida ou dizem bom dia ao detento da cela ao lado”, relata Kupers .

“Para dominar a raiva, eles começam a suprimir todos os sentimentos e a se sentir entorpecidos, sem vida e, finalmente, ‘mortos’. Um grande número de presidiários descreveu essa sensação de isolamento e entorpecimento, mesmo no contexto do confinamento solitário, como um estado de morte”.

Metade dos suicídios bem sucedidos nas prisões dos Estados Unidos é cometida por detentos em confinamento solitário, informa Kupers – cerca de 4% a 6% da população carcerária.

O principal investigador de práticas de tortura das Nações Unidas, Juan Mendez, pediu que os Estados Unidos banissem o isolamento prolongado, citando suas consequências nefastas para o corpo e a mente.

Os apoiadores de Wallace esperam que seu caso inspire mudanças no sistema penal. ”Herman nunca foi o foco”, declarou uma amiga, Ashley Wennerstrom, ao NOLA.com . “Trata-se de um movimento muito maior para tornar o sistema de justiça criminal, de fato, justo”.


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Fonte: Discovery 

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